Carcinoma basocelular: guia completo

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O que é o carcinoma basocelular?

Carcinoma basocelular é o câncer de pele mais comum que existe, aliás é o câncer mais comum do ser humano. É um tumor de excelente prognóstico, que ser curado com o tratamento adequado quando diagnosticado precocemente.   O carcinoma basocelular raramente dá metástases, isto é, espalha pelo corpo, mas pode ser agressivo localmente. É um tumor que cresce de forma lenta e progressiva, em geral acomete as áreas expostas ao sol como o rosto. 

De onde vem o carcinoma basocelular? Anatomia da pele

Nossa pele é o maior órgão do corpo humano, sendo responsável por 15% do nosso peso. É dividida em 3 partes: epiderme, derme e hipoderme (ou tecido subcutâneo). A epiderme, camada mais externa da pele, está em constante renovação, trocando completamente suas células a cada 28 dias. Uma das células da epiderme é a célula basal que dá origem ao carcinoma basocelular. A célula basal fica na camada mais profunda da epiderme: a camada basal.

Origem celular do carcinoma basocelular

Fatores de risco para o carcinoma basocelular:

O desenvolvimento de um carcinoma basocelular depende de uma interação em fatores pessoais, principalmente genéticos e fatores ambientais, em especial a exposição solar.

Fatores de risco pessoais :

Pele Clara: Carcinoma basocelular é muito mais frequente em pessoas de pele clara. O risco de uma pessoa de pele clara desenvolver CBC é 19 vezes maior que um negro.

Idade e sexo: É um tumor mais comum após a quinta década de vida, sendo que 80% dos carcinomas basocelulares diagnosticados ocorrem acima dos 55 anos. É mais comum em homens, numa relação de 2:1. Esta diferença pode ser explicada por maior exposição solar por trabalho (ocupacional) dos homens. Contudo, em jovens, abaixo de 40 anos, é mais frequente em mulheres, diferença atribuída aos hábitos de bronzeamento.

Local do corpo: A localização típica é a região de cabeça e pescoço, 80 % dos carcinomas basocelulares se desenvolvem nesta região, a maior parte destes surgindo no rosto. Na face uma localização muito frequente é a região do nariz, 30 a 40% de todos os carcinomas basocelulares surgem no nariz. Isto é um grande problema, por mais que o carcinoma basocelular seja um câncer de bom prognóstico, que pode ser curado por cirurgia, cicatrizes cirúrgicas no rosto podem ser muito desagradáveis. Em jovens, abaixo de 40 anos, a situação muda, sendo mais comum em tórax, principalmente nas costas e nos ombros.

Genética: Ainda é um tema controverso. Não existe consenso entre os especialistas, mas acredita-se que pessoas com história familiar de carcinoma basocelular tenham maior risco de desenvolver o tumor.

Fatores de risco ambientais

Sol: É sem dúvida o fator mais importante no desenvolvimento do carcinoma basocelular. Áreas expostas ao sol são mais afetadas pelo tumor. Pessoas de pele clara que vivem em locais de grande exposição solar, tem maior risco. Diferentemente do que ocorre no carcinoma espinocelular, não é a exposição cumulativa que representa o maior risco, mas sim as exposições agudas, com queimadura solar. Diversos estudos relacionam um maior número de queimaduras solares com maior risco de CBC.

Hábitos e dieta: Tabagismo aumenta o risco de carcinoma basocelular e também está relacionado a formas mais agressivas do tumor. Dietas ricas em gordura também aumentam o risco. Em contrapartida, dietas mediterrâneas, chá e cafeína diminuem o risco.

Transplante de órgãos: Pacientes com história de transplante de órgãos sólidos, como transplante de rins, tem um risco aumentado de desenvolver carcinoma basocelular. Recentemente, descobriu-se que pessoas que fizeram transplante de também tem um risco maior de desenvolver CBC.

Como reconhecer um carcinoma basocelular.

Será que esta ferida é um câncer de pele? Esta é uma dúvida frequente, motivo de muitas visitas aos consultórios dermatológicos. Abaixo temos algumas dicas de como reconhecer um carcinoma basocelular:

Ferida que não cicatriza:  Toda ferida que demore mais do que 15 dias para cicatrizar deve ser avaliada por um médico dermatologista, principalmente aquelas sem evidência de trauma como causa.

Nódulo avermelhado brilhante: O carcinoma basocelular (CBC) pode ser um nódulo, avermelhado com brilho perláceo. Este brilho é uma característica marcante do CBC.

Telangiectasias: Pequenos e finos vasos sanguíneos que aparecem na superfície do carcinoma basocelular.

Pigmentação: O carcinoma basocelular pode ser pigmentado. Quando isso acontece é fundamental diferenciar o CBC de outro tipo de câncer de pele: o melanoma.

Crescimento: Normalmente o carcinoma basocelular tem crescimento lento, cresce sem que seja percebido no começo.

Sintomas: O carcinoma basocelular da poucos sintomas. Pode coçar eventualmente, pode doer (principalmente quando está ferido, ulcerado) e pode sangrar.

Carcinoma basocelular: nódulo avermelhado exibindo telangiectasias (finos vasos de sangue) e ulceração (ferida que não cicatriza)

Como é feito o diagnóstico de carcinoma basocelular?

Após um exame físico detalhado da pele, o dermatologista pode fazer uma dermatoscopia, um exame feito com uma lente de aumento especial que ajuda a identificar os carcinomas basocelulares. O diagnóstico definitivo de um carcinoma basocelular é feito através da biópsia de pele. O médico dermatologista remove um pequeno fragmento do tumor e envia para análise, que irá confirmar o diagnóstico.

Subtipos de carcinoma basocelular:

O CBC pode ser divido em subtipos de acordo com aspectos clínicas e celulares. Cada subtipo de carcinoma basocelular tem características próprias e é importante conhecer o subtipo para determinar o melhor tratamento.

Carcinoma basocelular nodular: O carcinoma basocelular (CBC) nodular é o subtipo mais comum de CBC, respondendo por 50 a 80% destes tumores. Em geral tem comportamento menos agressivo pelo seu crescimento expansivo ao invés de infiltrativo. O CBC nodular cresce afastando os tecidos ao invés de crescer invadindo os tecidos, desta forma seu tratamento é mais fácil e com maior possibilidade de cura. O carcinoma basocelular nodular em geral apresenta-se, como o próprio nome diz, como um nódulo, uma “bolinha”, avermelhada. Sua superfície pode exibir um brilho perolado. É comum a presença de finos vasos de sangue, conhecidos como teleangiectasias. O CBC nodular eventualmente é pigmentado, escuro, enegrecido. É mais comum ocorrer esta pigmentação em pessoas de pele morena ou negra. Como todo CBC pode ulcerar, formando a famosa “ferida que não cicatriza”. 90% dos carcinomas basocelulares nodulares ocorrem na face, sendo o local mais comum o nariz. É comum após os 55 anos de idade, ocorrendo com maior frequência em homens.

Carcinoma basocelular nodular no nariz.

Carcinoma basocelular micronodular: O CBC micronodular exibe as mesmas características do CBC nodular: nódulo avermelhado com brilho perolado e teleangiectasias (finos vasinhos de sangue). Diferente do que acontece no carcinoma basocelular nodular, o CBC micronodular raramente ulcera, raramente da ferida. O local mais frequente de aparecimento é o rosto. O subtipo micronodular costuma ter um comportamento mais agressivo que o nodular.

Carcinoma basocelular micronodular em pálpebra

Carcinoma basocelular superficial: Este é um subtipo de carcinoma basocelular um pouco diferente. Costuma acometer pessoas mais jovens, na faixa dos 40 aos, sendo o local mais comum o dorso (ombro e costas) seguido do rosto e pescoço. Diferente do que acontece nos demais carcinomas basocelulares, o CBC superficial acomete mais frequentemente mulheres. O carcinoma basocelular superficial não costuma exibir as características típicas como brilho perolado e teleangiectasias. Normalmente se apresenta como uma lesão avermelhada, descamativa, quase plana. Por seu aspecto diferente, o CBC superficial se confunde com outras doenças de pele como psoríase, eczema e alergias. Isto pode acabar atrasando o diagnóstico e o tratamento. Dentre os cânceres de pele, o principal diagnóstico diferencial se faz com Doença de Bowen. Em pessoas de pele morena o carcinoma basocelular pode ser pigmentado. Nestes casos, o principal diferencial é um Melanoma. Como é um tumor praticamente assintomático (não coça, não dói e não sangra), por localizar-se em região de difícil autoexame e por ter características que se confundem com outras doenças de pele, o carcinoma basocelular superficial é muitas vezes diagnosticado tardiamente. 

Carcinoma basocelular superficial no dorso

Carcinoma basocelular esclerodermiforme: O carcinoma basocelular (CBC) esclerodermiforme, também chamado de carcinoma basocelular infiltrativo é o subtipo mais agressivo de CBC, responde por 5 a 15% destes tumores. Este tipo de tumor costuma invadir mais profundamente a pele e os tecidos subcutâneos. Com isso sem o tratamento adequado é comum haver recidivas.  Assim como a maioria dos CBC, o carcinoma basocelular esclerodermiforme ocorre com maior frequência no rosto, sendo mais comum após os 55 anos de idade e em homens. O carcinoma basocelular esclerodermiforme também exibe as características clássicas do CBC, como brilho perláceo e teleangiectasias (finos vasos de sangue). Além destas, pode se parecer com uma cicatriz, uma área atrófica, esbranquiçada. Justamente por se parecer com uma cicatriz, ou até com esclerodermia que recebe este nome: esclerodermiforme.  O CBC esclerodermiforme costuma ser difícil de delimitar, dizer onde começa e onde termina. Isso acaba dificultando o tratamento e aumentando a chance de recidivas por cirurgias incompletas.

Carcinoma basocelular infiltrativo ou esclerodermiforme: lesão é mal delimitada.

Carcinoma basocelular metatípico: O carcinoma basocelular (CBC) metatipico, também conhecido como basoescamoso é um câncer de pele raro, que apresenta características tanto de carcinoma basocelular como carcinoma espinocelular (CEC). De uma forma geral podemos colocar o CBC metatípico como um câncer de pele intermediário entre o CBC e o CEC. Seu comportamento e agressividade também se situam no intervalo de um CBC e um CEC. O basoescamoso é mais agressivo que um carcinoma basocelular comum, mas menos agressivo que um carcinoma espinocelular. É muito difícil diferenciar um CBC metatípico de um CBC comum, ambos acabam exibindo as mesmas características. Uma dica para suspeitar de carcinoma basocelular metatípico são os fatores de risco. Normalmente acontece mais em rosto, em homens acima de 70 anos, como pele danificada pelo sol. O diagnóstico normalmente só é definido por um exame de biópsia de pele.

Carcinoma basocelular metatípico ou basoescamoso em dorso nasal

O carcinoma basocelular pode exibir mais de um subtipo, portanto é comum laudos anatomopatológicos que informem diagnósticos como: carcinoma basocelular nodular pigmentado ou carcinoma basocelular nodular e micronodular.

Estadiamento do carcinoma basocelular

O carcinoma basocelular pode ser estadiado de acordo com a 8ª edição do sistema de estadiamento de câncer da AJCC (American Joint Committee on Cancer) , que é o sistema usado para a grande maioria dos cânceres, contudo esta classificação é pouco prática e acaba agrupando o carcinoma basocelular junto com o carcinoma espinocelular. Desta forma utiliza-se uma classificação mais simples. Classificamos o CBC em alto risco ou baixo risco, de acordo com a chance do tumor voltar após o tratamento inicial, de recidivar. O risco de metástases (do tumor se espalhar para linfonodos ou órgãos a distância, no carcinoma basocelular) é mínimo, o CBC muito raramente dá metástases, portanto, o principal fator considerado no momento de definir o melhor tratamento é o risco de recidiva. Este risco de recidiva é influenciado por alguns fatores relacionados ao tumor como: sua localização, seu tamanho, seu subtipo histológico e por já ter sido tratado previamente ou não.

  • Localização: Tumores localizados em região de cabeça e pescoço, mesmo que sejam tumores pequenos ou que tenham subtipo histológico menos agressivos (nodular e superficial) são classificados como alto risco. Como 80% dos carcinomas basocelulares acontecem em região de cabeça e pescoço, a grande maioria dos tumores é classificada como alto risco. São considerados de alto risco também, tumores localizados em região de mãos e pés, região genital e tumores na região pré-tibial, na canela. Estas regiões apresentam mais risco de recidiva. Algumas regiões do corpo têm risco ainda mais alto de recidiva como pálpebras, nariz e orelhas, merecendo atenção especial.
  • Tamanho: Tumores pequenos, menores que 2,0 cm de diâmetro tem baixo risco de recidiva, enquanto tumores acima de 2,0 cm de diâmetro são classificados como alto risco.
  • Bordas: Tumores bem delimitados nos quais é possível determinar onde o tumor começa e termina são considerados de baixo risco. Já tumores mal delimitados, nos quais é impossível demarcar os limites do tumor, são considerados de alto risco.
  • Subtipo histológico: Os subtipos nodular e superficial em geral apresentam menor risco, sendo classificados como baixo. Já os subtipos esclerodermiforme ou infiltrativo, micronodular e basoescamoso tem maior risco de recidiva.
  • Tratamentos prévios: Tumores primários, ou seja, que nunca foram tratados, tem menor risco. Já um tumor que já foi tratado e recidivou tem maior risco de uma nova recidiva, em geral são tumores mais agressivos que precisam de um tratamento agressivo.
  • Imunossupressão: Pacientes que tenham outras doenças que deixem o sistema de defesa mais fraco, imunossuprimido, como por exemplo Lupus ou AIDS/HIV, ou ainda pacientes que tomem remédios que causam imunossupressão como pacientes transplantados, tem maior risco de recidiva e seus tumores são classificados como alto risco.

Basta uma característica de alto risco para que o tumor já seja classificado desta forma, ou seja, um tumor pequeno, menor que 2,0 cm de diâmetro de subtipo nodular, localizado em nariz é considerado de alto risco pela localização, mesmo sendo pequeno e de subtipo histológico menos agressivo.

Classificação de risco do carcinoma basocelular

Tratamento do carcinoma basocelular – O carcinoma basocelular tem cura?

Sim, este é um câncer de excelente prognóstico, com altos índices de cura. Quanto mais precoce o diagnóstico, mais fácil de tratar. Todo câncer deve receber o melhor tratamento possível logo na primeira tentativa, evitando que o câncer recidive. Como regra o melhor tratamento para o carcinoma basocelular é a cirurgia, mas existem outros tratamentos:

Tratamento não cirúrgicos do carcinoma basocelular

Em geral os tratamentos não cirúrgicos devem ser usados em tumores menores e de baixo risco.

Crioterapia no tratamento do carcinoma basocelular:

A destruição por congelamento do tumor é bastante eficaz no tratamento do carcinoma basocelular.  No geral a resposta terapêutica é boa, com recidivas menores que 10%.

Radioterapia no tratamento do carcinoma basocelular:

Destruição do tumor por meio da radiação. É um tratamento extremamente eficaz para tumores de baixo risco, com excelentes taxas de cura e uma boa resposta estética. Em geral reservamos a radioterapia para pacientes que não tem condições cirúrgicas.

Terapia fotodinâmica no tratamento do carcinoma basocelular:

Também conhecido como PDT (photodynamic therapy). Tratamento que usa um agente fotossensibilizante na presença de uma fonte luminosa apropriada para causar morte celular e destruição seletiva do tumor. Atualmente está indicada somente para casos de carcinoma basocelular superficial. Seu uso em outras formas de CBC ou mesmo em variantes agressivas não é indicado por ter baixas taxas de cura.

Medicações tópicas no tratamento do carcinoma basocelular:

Existem medicações de uso tópico, todas com índices de cura menores que cirurgia, que podem ser usadas somente em casos especiais, como tumores pequenos e de baixo risco, ou em casos onde a cirurgia está contra-indicada

Tratamento Sistêmico (quimioterapia) para carcinoma basocelular:

Existem 2 tratamentos sistêmicos para o carcinoma basocelular que são indicados somente em tumores muito grandes (doença local avançada) ou nos raros casos de metástases. São casos de exceção, uma vez que na maioria das vezes o carcinoma basocelular tem excelente prognóstico e pode ser curado com cirurgia.

Vismodegibe. É um tratamento que age por inibição da chamada via hedgehog. Normalmente nos carcinomas basocelulares existem mutações que levam à ativação desta via. Os primeiros resultados com esta nova medicação são animadores. Está longe de ser a cura do carcinoma basocelular, mas é uma nova arma no arsenal de tratamento do carcinoma basocelular.

Cemiplimabe. Imunoterapia para o tratamento do carcinoma basocelular, a medicação estimula o funcionamento do sistema de defesa do próprio paciente, fazendo com que o próprio corpo destrua o tumor. Imunoterapia tem se mostrado um excelente tratamento contra melanoma e contra carcinoma espinocelular. No caso do tratamento do basocelular, imunoterapia com cemiplimabe está reservado a casos de doença local avançada ou casos metastáticos que não tiveram boa resposta a tratamentos anteriores.

Tratamentos cirúrgicos para o carcinoma basocelular

Curetagem e eletrocoagulação

Este é um procedimento simples onde é feito uma raspagem forte (curetagem) seguida do uso do bisturi elétrico. Normalmente são feitos 2 ciclos do procedimento no mesmo dia para uma maior taxa de cura. É um procedimento com boas taxas de cura, contudo, a cicatriz resultante pode não ser tão estética. Não deve ser usado para tumores em cabeça e pescoço, ou tumores em áreas com muitos pelos.

Cirurgia convencional para o tratamento do carcinoma basocelular

Na cirurgia convencional, remove-se o tumor com uma margem de segurança de pele normal ao redor do tumor. A margem de segurança é pré-determinada e depende da localização do tumor e do tipo do tumor.  A cirurgia quando feita de forma adequada é curativa e dependendo da área operada o resultado estético é muito bom. As margens de segurança variam de acordo com a classificação de risco do carcinoma basocelular. Para tumores de baixo risco se adotam margens de 3 a 5 milímetros, enquanto carcinomas basocelulares de alto risco as margens variam de 4 a 10 milímetros.

Cirurgia micrográfica de Mohs

A cirurgia de Mohs é a modalidade cirúrgica com os maiores índices de cura, 99% para tumores primários e 94% para tumores recidivados. A cirurgia micrográfica de Mohs é o tratamento do câncer de pele com as melhores taxas de cura.

É um método cirúrgico preciso no qual todo o tumor removido é analisado imediatamente para avaliar se foi completamente retirado. A cirurgia só termina quando há certeza de que todo o tumor foi completamente removido. Por isso os índices de cura são altos e as recidivas raras. Ao mesmo tempo que tem as maiores taxas de cura, a cirurgia de Mohs permite realizar a menor cirurgia possível, removendo a menor quantidade de pele e tecido saudável ao redor do tumor, desta forma, produz as menores cicatrizes, com os melhores resultados estéticos.

Qual o melhor tratamento para o carcinoma basocelular

Assim como acontece em todos os outros tipos de câncer, o melhor tratamento do carcinoma basocelular (CBC) é seguir as recomendações de guidelines internacionais. Um dos mais usados pelos médicos é o guideline do NCCN – National Comprehensive Cancer Network.

Neste guideline a escolha do tratamento depende da classificação de risco do carcinoma basocelular. O objetivo de qualquer tratamento para o carcinoma basocelular é a cura, é evitar que o tumor possa recidivar. Além da curar, o segundo objetivo do tratamento do carcinoma basocelular é uma boa cicatriz, que preserve a função e a estética local.

Tratamento do carcinoma basocelular de baixo risco

O carcinoma basocelular de baixo risco pode ser tratado de forma mais simples, em geral com procedimentos realizados no próprio consultório do dermatologista, com boas taxas de cura.

Carcinomas basocelulares superficiais pequenos localizados em áreas de baixo risco podem ser tratados com medicações tópicas. Os demais tumores de baixo risco devem ser tratados de forma cirúrgica ou por meio de curetagem e eletrocoagulação ou por meio de cirurgia convencional com margens adequadas. Nós da clínica Dôvera preferimos o tratamento com cirurgia convencional por ter maiores taxas de cura. Nos casos onde a cirurgia não possa ser realizada, como em pacientes muito idosos com outras doenças que contraindiquem a cirurgia, a radioterapia tem excelentes resultados, sendo uma opção muito interessante de tratamento.

Tratamento do carcinoma basocelular de alto risco

Nos carcinomas basocelulares de alto risco a escolha é sempre pelo tratamento cirúrgico. O paciente só não fará cirurgia se não tiver condições clínicas para tal, nestes casos a radioterapia

tem boas taxas de cura para tumores de alto risco, mas já são taxas de cura menores do que acontece para tumores de baixo risco. Nos tumores de alto risco não realizamos curetagem e eletrocoagulação, realizando somente cirurgia convencional ou cirurgia de Mohs. No caso da cirurgia convencional para tumores de alto risco as margens de segurança são maiores que para os tumores de baixo risco: entre 4 a 10 milímetros de margens circunferenciais. A cirurgia de Mohs é o tratamento cirúrgico do carcinoma basocelular de alto risco com os melhores índices de cura, sendo as recidivas raras. Ao mesmo tempo que tem as maiores taxas de cura, a cirurgia de Mohs permite realizar a menor cirurgia possível, removendo a menor quantidade de pele e tecido saudável ao redor do tumor, desta forma, produz as menores cicatrizes, com os melhores resultados estéticos. Está indicada em todos os tumores de alto risco, mas especialmente para os carcinomas basocelulares localizados em face.

Seguimento ambulatorial

Quem teve um carcinoma basocelular tem um risco maior de ter um segundo tumor, outro tumor em outra localização. Este risco é estimado em 30%, ou seja, a cada 10 pessoas com carcinoma basocelular, 3 terão um seguindo tumor num seguimento de 3 anos. Por esta razão é recomendado seguimento a cada 6 ou 12 meses com um dermatologista, para avaliar tanto a região tratada, como examinar também a pele toda, pesquisando possíveis novos tumores. O seguimento tem como objetivo reconhecer e diagnosticar precocemente possíveis recidivas do tumor tratado, assim como diagnosticar precocemente novos tumores. 

Prevenção

A principal forma de prevenção são os cuidados com o sol:

  • Evitar exposição solar prolongada, buncando sempre a sombra.
  • Usar sempre roupas, chapéus e óculos escuros, dando preferência a tecidos com proteção ultravioleta.
  • Usar protetor solar sempre que for se expor por períodos longos ao sol. Lembrar de aplicar um protetor com fator de proteção 30 ou superior, aplicando pelo menos 15 minutos antes de sair ao sol.

E não se esqueça de examinar sua pele regularmente, caso encontre uma lesão suspeita procure um dermatologista.

Pessoas que já tiveram um carcinoma basocelular, ou outro tipo de câncer de pele, se beneficiam de seguimento regular com um dermatologista.

Perguntas Frequentes

Carcinoma basocelular é maligno? Carcinoma basocelular pode matar? Carcinoma basocelular é perigoso? Carcinoma basocelular pode espalhar pelo corpo?

Carcinoma basocelular é um tumor maligno de bom prognóstico, ou seja, pode ser tratado e curado especialmente quando diagnosticado precocemente. Mesmo tendo um bom prognóstico é um tumor maligno, que cresce continuamente e invade os tecidos ao seu redor, por isso não é um tumor “bobinho”. Carcinoma basocelular raramente se espalha pelo corpo, raramente da metástases, mas pode ser muito agressivo localmente, invadindo tecidos profundos e causando grande comprometimento estético e funcional da região afetada. Então respondendo as perguntas, é um tumor perigoso sim, mas que tem risco mínimo de levar a óbito.

O que significa “margens comprometidas” no laudo da cirurgia do carcinoma basocelular?

Quando um carcinoma basocelular é removido no relatório de anatomia patológica (exame de biópsia) sempre virá informado sobre margens. Margens livres, significa que todo tumor foi removido, já margem comprometida é o oposto. Significa que em algum ponto o tumor não foi completamente removido o que causar a recidiva do tumor. O risco de recidiva num caso de margens comprometidas é estimado em torno de 20%, ou seja, 1 em cada 5 perssoas. Este risco vai variar de acordo com o local do corpo acometido pelo tumor, tendo maior risco para recidiva os tumores localizados no rosto, mãos, pés e região genital. É importante conversar com o médico que realizou a cirurgia pois nestes casos pode ser necessária uma reabordagem cirúrgica.

Qual médico trata o carcinoma basocelular?

Vários especialistas podem tratar o carcinoma basocelular: cirurgiões de cabeça e pescoço, cirurgiões plásticos, cirurgiões oncológicos e dermatologistas. O que é fundamental é ter treinamento e experiência com este tipo de tumor. A especialidade por si não garante que o médico seja experiente em carcinoma basocelular. Nos casos que necessitem de cirurgia de Mohs, o profissional que faz este tipo de cirurgia é o dermatologista.

Qual o melhor tratamento para o carcinoma basocelular de couro cabeludo?

          Nos carcinomas basocelulares de couro cabeludo o melhor tratamento é a cirurgia. Na região de cabeça e pescoço não se recomenda uso de tratamentos com medicações tópicas. Da mesma forma, não se recomenda tratamento com curetagem e eletrocoagulação em áreas com muitos pelos ou áreas com cabelos. Assim sendo a melhor opção é a cirurgia. Dentre as modalidades de cirurgia a melhor opção é a cirurgia de Mohs, com taxas de cura superiores às demais.

Qual o melhor tratamento para o carcinoma basocelular no nariz?

          A recomendação dos guidelines internacionais é para o tratamento cirúrgico! O nariz é a localização mais frequente do carcinoma basocelular, por volta de 40% dos tumores surgem no nariz. Além de muito comum, os tumores no nariz costumam apresentar mais recidivas, razão pela qual a cirurgia é o tratamento indicado, não sendo recomendado tratamentos com medicações tópicas. Das modalidades cirúrgicas a melhor opção é a cirurgia micrográfica de Mohs que além de apresentar melhores taxas de cura, consegue cicatrizes menores e mais estéticas.

A cirurgia para o tratamento do carcinoma basocelular no rosto deixa muita cicatriz?

          O carcinoma basocelular frequentemente acomete o rosto o que gera uma preocupação muito grande em relação à cicatriz final após o tumor ser removido. O primeiro ponto do tratamento do carcinoma basocelular é garantir a cura. Em seguida, o segundo objetivo do tratamento é a melhor cicatriz possível. O método com as melhores taxas de cura é a cirurgia de Mohs, que também é o método cirúrgico que proporciona as melhores cicatrizes, pois o defeito cirúrgico é menor, justamente pela possibilidade de avaliar no momento da cirurgia se todo o tumor foi ou não removido. Além de ter as maiores taxas de cura e menores defeitos cirúrgicos, a cirurgia de Mohs permite a reconstrução na mesma cirurgia, proporcionando melhores resultados estéticos. E podemos também lançar mão de recursos adicionais que previnem a formação de cicatrizes inestéticas como por exemplo o uso de toxina botulínica e lasers.

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Autor:

Dr. Gustavo Alonso

Dermatologista – CRM – SP: 97410 | RQE – 37815