Dúvidas mais comuns sobre carcinoma basocelular

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Quando uma pessoa recebe o diagnóstico de um carcinoma basocelular (CBC) surgem várias dúvidas a respeito deste tumor. A ideia deste texto é responder as perguntas mais frequentes encontradas na internet e nas redes sociais.

Como é feito o diagnóstico de carcinoma basocelular?

O diagnóstico definitivo de um carcinoma basocelular é feito através da biópsia de pele. O médico dermatologista remove um pequeno fragmento do tumor e envia para análise, que irá confirmar o diagnóstico. Uma outra ferramenta que pode ajudar muito no diagnóstico de um carcinoma basocelular é a dermatoscopia, que pode inclusive fechar o diagnóstico de um CBC sem a necessidade de uma biópsia.

Dermatoscopia do carcinoma basocelular

Carcinoma basocelular é maligno? Carcinoma basocelular pode matar? Carcinoma basocelular é perigoso? Carcinoma basocelular pode espalhar pelo corpo?

Carcinoma basocelular é um tumor maligno de bom prognóstico, ou seja, pode ser tratado e curado especialmente quando diagnosticado precocemente. Mesmo tendo um bom prognóstico é um tumor maligno, que cresce continuamente e invade os tecidos ao seu redor, por isso não é um tumor “bobinho”. Carcinoma basocelular raramente se espalha pelo corpo, raramente da metástases, mas pode ser muito agressivo localmente, invadindo tecidos profundos e causando grande comprometimento estético e funcional da região afetada. Então respondendo as perguntas, é um tumor perigoso sim, mas que tem risco mínimo de levar a óbito.

Quantos graus tem o carcinoma basocelular? Quais são os estágios do carcinoma basocelular?

O carcinoma basocelular pode ser estadiado de acordo com a 8ª edição do sistema de estadiamento de câncer da AJCC (American Joint Committee on Cancer) , que é o sistema usado para a grande maioria dos cânceres, contudo esta classificação é pouco prática e acaba agrupando o carcinoma basocelular junto com o carcinoma espinocelular. Desta forma usamos uma classificação mais simples, classificamos o CBC em alto risco ou baixo risco, de acordo com a chance do tumor voltar após o tratamento inicial, de recidivar. Este risco de recidiva é influenciado por alguns fatores relacionados ao tumor como: sua localização, seu tamanho, seu subtipo histológico e  por já ter sido tratado previamente ou não.

 Baixo RiscoAlto Risco
Localização e tamanhoCorpo, menor de 2 cmCabeça e pescoço, mãos, pés, região genital e pré-tibial Tumores maiores que 2cm de diâmetro no corpo
BordasBem delimitadasMal delimitadas
Subtipo HistológicoSuperficial ou NodularMicronodular, esclerodermiforme ou infiltrativo, basoescamoso
Tratamento prévioSem tratamento prévioTratado previamente e recidivado
Classificação de risco do carcinoma basocelular

O que é subtipo histológico do carcinoma basocelular?

O CBC pode ser divido em subtipos histológicos de acordo com aspectos do tumor que são vistos na biópsia:

  • Carcinoma basocelular nodular: O carcinoma basocelular (CBC) nodular é o subtipo mais comum de CBC, respondendo por 50 a 80% destes tumores. Em geral tem comportamento menos agressivo, sendo mais comum após os 55 anos de idade, ocorrendo com maior frequência em homens.
  • Carcinoma basocelular superficial: Este é um subtipo de carcinoma basocelular um pouco diferente. Costuma acometer pessoas mais jovens, na faixa dos 40 aos, sendo o local mais comum o dorso (ombro e costas) seguido do rosto e pescoço. Também é um subtipo de baixo risco.
  • Carcinoma basocelular esclerodermiforme: Também chamado de carcinoma basocelular infiltrativo é o subtipo agressivo de CBC, responde por 5 a 15% destes tumores. Este tipo de tumor costuma invadir mais profundamente a pele e os tecidos subcutâneos. Com isso sem o tratamento adequado é comum haver recidivas.  Assim como a maioria dos CBC, o carcinoma basocelular esclerodermiforme ocorre com maior frequência no rosto, sendo mais comum após os 55 anos de idade e em homens.
  • Carcinoma basocelular metatípico: O carcinoma basocelular (CBC) metatipico, também conhecido como basoescamoso é um câncer de pele raro, que apresenta características tanto de carcinoma basocelular como carcinoma espinocelular (CEC). De uma forma geral podemos colocar o CBC metatípico como um câncer de pele intermediário entre o CBC e o CEC. É um tumor agressivo com alta chance de recidiva e uma chance de espalhar pelo corpo, de dár metástases em torno de 5% dos casos.

Carcinoma basocelular pode voltar?

Sim, se o carcinoma basocelular não for tratado adequadamente, não for removido completamente ele pode voltar no mesmo lugar, o que chamamos de recidiva. Recidivas são mais frequentes em tumores localizados na face, em especial no nariz. Recidivas são também mais comuns com tumores de subtipos mais agressivos como u carcinoma basocelular infiltrativo, carcinoma basocelular micronodular e o carcinoma basoescamoso.

Carcinoma basocelular tem cura?

Sim tem cura, especialmente quando diagnosticado no começo. A grande maioria dos casos pode ser curada com o tratamento adequado.

Qual o melhor tratamento para carcinoma basocelular?

De uma forma geral, o tratamento do carcinoma basocelular é cirúrgico. Alguns poucos casos de carcinoma basocelular de baixo risco, pequenos, localizados no corpo podem ser tratados de forma não cirúrgica. Mas a grande maioria dos casos é cirúrgica. Dentre as técnicas cirúrgicas a que apresenta as melhores taxas de cura é a cirurgia micrográfica de Mohs, com 99% de cura para os tumores primários e 94% de cura nos tumores recidivados.

Qual médico trata o carcinoma basocelular?

Vários especialistas podem tratar o carcinoma basocelular: cirurgiões de cabeça e pescoço, cirurgiões plásticos, cirurgiões oncológicos e dermatologistas. O que é fundamental é ter treinamento e experiência com este tipo de tumor. A especialidade por si não garante que o médico seja experiente em carcinoma basocelular. Nos casos que necessitem de cirurgia de Mohs, o profissional que faz este tipo de cirurgia é o dermatologista.

 O que significa “margens comprometidas” no laudo da cirurgia do carcinoma basocelular?

Quando um carcinoma basocelular é removido no relatório de anatomia patológica (exame de biópsia) sempre virá informado sobre margens. Margens livres, significa que todo tumor foi removido, já margem comprometida é o posto. Significa que em algum ponto o tumor não foi completamente removido o que causar a recidiva do tumor. Em geral, várias outras informações aparecem no relatório de patologia e isso pode ser muito. Fizemos um texto específico de como interpretar o relatório de biópsia do CBC.

Quem tem carcinoma basocelular precisa fazer quimioterapia?

A grande maioria dos carcinomas basocelulares tem excelente prognóstico e pode ser tratado e curado com cirurgia. Contudo, alguns casos podem evoluir para tumores muito grandes, que não podem ser operados, ou ainda evoluir com metástases, quando o tumor se espalha pelo corpo. Nos casos inoperáveis e nos casos metastáticos está indicada a quimioterapia. São 2 drogas liberadas no Brasil (na data de agosto de 2023), com boa resposta para carcinoma basocelular: Vimodegibe e Cemiplimabe.

  • Vismodegibe. É um tratamento que age por inibição da chamada via hedgehog. Normalmente nos carcinomas basocelulares existem mutações que levam à ativação desta via. Os primeiros resultados com esta nova medicação são animadores. Está longe de ser a cura do carcinoma basocelular, mas é uma nova arma no arsenal de tratamento do carcinoma basocelular.
  • Cemiplimabe. Imunoterapia para o tratamento do carcinoma basocelular, a medicação estimula o funcionamento do sistema de defesa do próprio paciente, fazendo com que o próprio corpo destrua o tumor. Imunoterapia tem se mostrado um excelente tratamento contra melanoma contra carcinoma espinocelular. No caso do tratamento do basocelular, imunoterapia com cemiplimabe está reservado a casos de doença local avançada ou casos metastáticos que não tiveram boa resposta a tratamentos anteriores.

Um carcinoma basocelular pode virar um melanoma?

Não. Os dois são cânceres da pele, mas um não se transforma no outro. Como ambos são causados por exposição solar, é possível uma pessoa ter os 2 tumores em locais diferentes da pele, mas um não se transforma no outro.

Referências bibliográficas

  1. Keohane SG, Proby CM, Newlands C, Motley RJ, Nasr I, Mohd Mustapa MF; British Association of Dermatologists (Squamous and Basal Cell Carcinoma Guideline Development Groups); Slater DN; Royal College of Pathologists (Skin Cancer Lead). The new 8th edition of TNM staging and its implications for skin cancer: a review by the British Association of Dermatologists and the Royal College of Pathologists, U.K. Br J Dermatol. 2018 Oct;179(4):824-828.
  2. Heath MS, Bar A. Basal Cell Carcinoma. Dermatol Clin. 2023 Jan;41(1):13-21. doi: 10.1016/j.det.2022.07.005.
  3. Basal cell skin cancer. National Comprehensive Cancer Network (NCCN) – Guidelines for patients. 2022
  4. Naik PP, Desai MB. Basal Cell Carcinoma: A Narrative Review on Contemporary Diagnosis and Management. Oncol Ther. 2022 Dec;10(2):317-335.

Autor:

Dr. Gustavo Alonso

Dermatologista – CRM – SP: 97410 | RQE – 37815