Não existe qualquer dúvida na comunidade científica, na comunidade médica, de que sol é o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de pele. Portanto, medidas de proteção solar são eficazes na diminuição de risco do surgimento de câncer de pele.
Entre estas medidas temos:
1-Evitar o sol e buscar a sombra
2-Usar roupas, chapéus e óculos escuros, dando preferência a tecidos com proteção solar
3-Uso de protetores solares.
Mesmo sendo um assunto bem estabelecido, com muita evidência científica comprovando, ainda temos na internet e nas redes sociais pessoas causando desinformação sobre este tema. Por isso decidimos desvendar 5 fatos ou mitos sobre os protetores solares.
Protetor solar causa câncer
MITO! Este mito inclusive é conhecido como o paradoxo do protetor solar. Alguns estudos científicos observacionais perceberam que pessoas que usavam regularmente protetor solar tinham uma incidência maior de câncer de pele quando comparado a pessoas que não usavam protetor solar. Como explicar isso? Protetor solar causa câncer de pele? Não, protetor solar não causa câncer, muito pelo contrário, já está bem estabelecido na literatura médica que protetor solar ajuda a prevenir câncer. O que explica este paradoxo é a quantidade de exposição solar e a forma como o protetor era usado. Pessoas que usavam protetor solar em geral não faziam reaplicações e tendo uma falsa sensação de proteção, acabavam se expondo ao sol em excesso, por um tempo maior do que o protetor que havia sido aplicado poderia evitar. Por mais que aplicassem protetor solar, o nível de exposição solar era tão intenso que acabava aumentando o risco de câncer de pele. Ou seja, protetor não causa câncer, mas sol em excesso causa!
Protetor solar engorda
MITO! Este é um mito que vira e mexe aparece nas redes sociais. O que tem por trás deste mito? Protetores solares se dividem em 2 tipos: orgânicos, que absorvem a radiação solar e físicos que refletem a radiação solar. Alguns dos compostos dos protetores solares orgânicos são substâncias que podem atuar sobre o sistema endocrinológico dos seres vivos, chamados de disruptores endócrinos, sendo a Oxibenzona (ou benzofenona-3) o principal deles. Em estudos animais, a Oxibenzina pode afetar peixes, diminuindo a produção de ovas, e tendo efeito de hormônio feminino em ratos. Contudo, para que um ser humano seja exposto aos mesmos níveis de oxibenzona usado nos experimentos realizados em ratos, ele precisaria usar protetor solar em 100% do corpo, nas doses recomendadas pelos fabricantes (2mg/cm²) por 35 anos ininterruptos ou 250 anos quando usado da forma habitual (menos de 0,5mg/cm²) em face e antebraços. Ou seja, por mais que existam substâncias que sejam de fato disruptores endócrinos em protetores solares, sua absorção é pequena e não afeta o funcionamento do nosso corpo. De qualquer forma, se uma pessoa não quiser entrar em contato com estas substâncias basta usar protetores 100% físicos, que não contém este tipo de filtro.
Protetor solar impede a produção de vitamina D
FATO (mas leia até o final)! O uso adequado, conforme recomendado nos estudos para definição de Fator de Proteção Solar (FPS), aplicando-se 2mg/cm² de protetor sobre a pele, bloqueia a radiação ultravioleta do tipo B, que é a radiação necessária para produção de vitamina D. Um protetor solar FPS 30 bloqueia 97% da radiação UVB, enquanto um protetor FPS 50 bloqueia 98% da radiação. Só que na vida real as pessoas não aplicam estas quantidades de protetor solar, usando metade ou até um quarto desta dose. Desta forma, a radiação UVB não é bloqueada totalmente. Somado a isso temos o fato de que no dia a dia, o uso de protetores solares é feito predominantemente no rosto, enquanto outras partes do corpo ficam sem protetor solar. Um estudo feito na cidade de São Paulo, durante 3 anos mostrou que 10 minutos diários, expondo somente o rosto e o dorso das mãos era suficiente para uma produção adequada de vitamina D. Ou seja, com exposição de braços, colos, mãos, mesmo que rosto esteja com protetor solar, entre 10 e 15 minutos de exposição solar diários são suficientes para produzir vitamina D, de forma que o protetor solar acaba não influenciando na produção. Agora, claro, se passarmos protetor solar adequadamente em todo o corpo, bloquearemos quase totalmente a passagem de radiação UVB impedindo a produção de vitamina D.
Protetor solar faz mal para o meio ambiente
FATO! Os protetores solares tem disruptores endócrinos que não afetam os serem humanos, nas concentrações presentes em filtros solares, mas afetam outros seres vivos. Os filtros orgânicos parecem alteram a simbiose entre algas e corais, causando o branqueamento dos corais. Há estudos mostrando que filtros orgânicos podem atrapalhar a fotossíntese por algumas algas. Além disso, estas substância parecem bioacumular, ou seja, conforma avançamos na cadeia alimentar, maior a concentração destas substâncias, sendo inclusive documentado alteração na reprodução de alguns peixes. E como devemos nos comportar então? Deixar de usar protetores solares nas praias e rios? O ideal é adotar outras medidas de proteção solar: evitar o sol nos horários de pico de radiação, usar roupas com filtro solar no tecido e se precisar usar protetor solar dar preferência aos chamados biocompatíveis, protetores solares com filtros físicos, sem a presença dos filtros orgânicos que fazem mal ao meio ambiente.
Não preciso de protetor solar dentro do carro
FATO! Os vidros do carro impedem parcialmente a passagem de radiação ultravioleta, bloqueando a passagem da radiação ultravioleta do tipo B (UVB). Os vidros frontais dos carros, que são vidros laminados, além de bloquearem a radiação UVB, também bloqueiam a radiação ultravioleta A (UVA), bloqueando toda radiação ultravioleta deixando passar luz visível e radiação infravermelho (que é responsável pela sensação de calor). Hoje em dia é muito comum o uso de películas escuras nos carros, sendo permitido por lei um máximo de 35% de escurecimento. Um vidro com película escura bloqueia tanto UVB quanto UVA. Desta forma, se você estiver dentro de um carro com vidros fechados e películas escuras, toda a radiação ultravioleta está bloqueada, não sendo necessário uso de protetor solar para prevenção de câncer de pele. Se dentro de um carro com películas escuras estou protegido dos raios solares por que tantas dermatologistas postam vídeos usando luvas ao dirigir? Outras doenças de pele como Melasma e surgimento de melanoses senis podem piorar pela exposição a luz visível e à radiação infravermelho. Como já existem protetores que atuam sobre o componente azul da luz visível, o uso de protetores solares dentro de carros pode estar indicado para prevenção da piora de outras doenças dermatológicas. E se quiser ter certeza de proteção, a melhor forma é o uso de roupas e luvas com filtro no tecido. E claro, se seu carro não tiver película escura, é importante usar protetor solar porque a radiação UVA irá atravessar os vidros laterais, sendo bloqueada somente pelo vidro laminado do para-brisa.
Referências bibliográficas
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