Sol: riscos e benefícios

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Tomar sol faz bem?

Sol já foi considerado um grande vilão, pelo risco de câncer de pele, mas nos últimos anos, cada vez mais, o sol tem sido considerado necessário e recomendável. O sol tem efeitos positivos para a saúde dos seres humanos e efeitos negativos, o segredo está na dose.

Benefícios do sol

          O principal benefício do sol, com maior comprovação científica é a produção de vitamina D.  Vitamina D não é uma vitamina, mas sim um hormônio e praticamente todas as células do corpo tem receptores para vitamina D, o que explica sua importância. Vitamina D tem várias ações fundamentais para a saúde: regulação do cálcio e fortalecimento dos ossos, melhora da parte cardíaca, diminuição do aparecimento de alguns tipos de câncer, diminuição de diabetes tipo 2, diminuição de doenças autoimunes como esclerose múltipla, asma e artrite reumatóide. Vitamina D é produzida pela pele através da radiação ultravioleta B.  Radiação ultravioleta B existe em maior concentração entre 10 da manhã e 2 da tarde, logo, para sintetizar vitamina D é preciso tomar sol neste horário. Não é necessária uma grande área de pele exposta, basta que o rosto e os braços estejam expostos por 10 a 15 minutos para sintetizar vitamina D na maior parte do Brasil.

          Além de vitamina D o sol também ajuda a regular a pressão arterial. O mecanismo desta ação parece ser relacionado a liberação de óxido nítrico pela pele, após exposição à radiação ultravioleta tipo A. O óxido nítrico causa dilatação dos vasos de sangue, reduzindo a pressão arterial. O óxido nítrico também ajuda a afinar o sangue reduzindo o risco de infartes e derrames. Estudos demonstram que pessoas que tomam sol regularmente tem menor risco de morte súbita, morte por eventos cardíacos. A explicação é justamente a soma dos efeitos do óxido nítrico e da vitamina D, ambos melhorando a parte cardíaca.

          O sol também tem efeito antidepressivo. As células da pele, os queratinócitos produzem endorfinas após exposição a radiação ultravioleta. Serotonina e melatonina também são reguladas por exposição a luz solar.

Riscos do sol

O principal risco do sol é o surgimento de câncer de pele. A radiação ultravioleta é capaz de causar mutações, além de diminuir o funcionamento do sistema imunológico. O aumento da incidência de câncer de pele com exposição solar é bem documentado cientificamente, não há dúvidas quanto a esta relação. Contudo, existem alguns fatores interessantes.

A exposição solar aguda e intermitente, aquela que acontece em momentos de lazer, quanto tomamos mais sol do que deveríamos, causando queimaduras solares, vermelhidão e ardência, está relacionada ao surgimento de câncer de pele, em especial melanoma e alguns tipos de carcinoma basocelular.

          Já a exposição solar crônica, do dia a dia, cumulativa, se relaciona a uma diminuição na incidência de melanoma! O mesmo câncer de pele, causado pela exposição solar aguda, tem sua incidência reduzida pela exposição solar crônica. Assim como melanoma, câncer de mama, próstata, cólon e linfoma não Hodgkin, também tem a incidência reduzida pela exposição solar crônica. Os benefícios da exposição solar crônica, se devem em grande parte á produção de vitamina D, que nos últimos anos tem sido responsabilizada pela diminuição da incidência de alguns tipos de câncer. Em compensação o mesmo tipo de exposição solar, crônica, é o principal fator causador de carcinoma espinocelular e carcinoma basocelular.

          Além de câncer de pele, a exposição solar crônica causa o envelhecimento da pele, com surgimento de rugas, manchas e flacidez de pele.  A exposição solar crônica também pode afetar os olhos, aumentando o risco de desenvolver catarata.

Como aproveitar os benefícios do sol?

O segredo dos benefícios do sol está no tipo de exposição e na dose. Para que tenhamos benefícios é necessários uma exposição diária, por poucos minutos, 10 a 15 minutos, preferencialmente entre 10 da manhã e 2 da tarde, horário no qual temos mais radiação ultravioleta B, radiação responsável pela síntese de vitamina D. Devemos evitar exposições prolongadas, quando não há benefício maior de produção da vitamina D e só existe risco, especialmente porque a mesma radiação ultravioleta B que faz vitamina D também causa mutações e câncer.

 Devemos evitar também exposições agudas, intensas, que levem a queimadura solar. Este tipo de exposição solar é comprovadamente relacionado ao surgimento de melanoma, pessoas que tiveram 5 ou mais queimaduras solares ao longo da vida tem o dobro do risco de desenvolverem melanoma.

Tomar sol ou não tomar sol qual a recomendação mais saudável?

Os benefícios da exposição solar parecem superar os riscos. Um dos maiores benefícios é a redução do risco de morte súbita, pelos efeitos positivos na pressão e no coração. Além da redução de morte súbita, existe também redução do surgimento de alguns cânceres. Quando colocamos na balança, os benefícios superam os riscos.

Então todos devem sair tomando sol e se bronzeando? Não! É preciso bom senso. O sol necessário para produzir vitamina D e para liberação de óxido nítrico é o sol de todo dia, durante pouco tempo. Enquanto o sol que causa câncer de pele é o sol intenso, que causa queimaduras solares.

A dica é tomar um pouco de sol todo dia. Adotar um hábito de vida mais saudável: ir almoçar caminhando no sol; quando for se deslocar de taxi, descer 1 ou 2 quarteirões antes e caminhar o restante; preferir caminhar ao usar o carro em deslocamentos pequenos. Dessa forma além de exposição solar diário, existe também o benefício da atividade física. Pequenas mudanças, grandes benefícios.

Referências bibliográficas

  1. Hoel DG, Berwick M, de Gruijl FR, Holick MF. The risks and benefits of sun exposure 2016. Dermatoendocrinol. 2016 Oct 19;8(1):e1248325. eCollection 2016 Jan-Dec
  2. Wright F, Weller RB. Risks and benefits of UV radiation in older people: More  of a friend than a foe? Maturitas. 2015 Aug;81(4):425-31.
  3. Lucas RM, Yazar S, Young AR, et al. Human health in relation to exposure to solar ultraviolet  radiation under changing stratospheric ozone and climate. Photochem Photobiol Sci. 2019 Mar 1;18(3):641-680.

Autor:

Dr. Gustavo Alonso

Dermatologista – CRM – SP: 97410 | RQE – 37815