Como interpretar o resultado da biópsia de carcinoma espinocelular

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Recebi o diagnóstico de carcinoma espinocelular, e agora?

Acabou de receber o diagnóstico de carcinoma espinocelular e não está entendendo este monte de termos médicos? Vamos tentar te ajudar a entender este resultado anatomopatológico. Os laudos anatomopatológicos de carcinoma espinocelular seguem um padrão orientado pela Sociedade Brasileira de Patologia e contém as seguintes informações: 

Tipo histológico ou subtipo histológico ou variante histológica:

 O carcinoma espinocelular pode ser classificado em subtipos:

  • Carcinoma espinocelular verrucoso: Este é um subtipo associado a um bom prognóstico. Em geral o carcinoma verrucoso acontece mais em plantas dos pés e área genital. São lesões grandes, vegetantes, verrucosas. Apesar do grande tamanho tem menor invasão na pele e costumam ter um comportamento menos agressivo.
  • Carcinoma espinocelular fusocelular (ou sarcomatóide): É um subtipo raro, caracterizado por células fusiformes que crescem infiltrando a pele, justamente pelo crescimento infiltrativo costuma ter um comportamento mais agressivo. Este subtipo de carcinoma espinocelular pode ser difícil de diferenciar de outros tumores, sendo necessário a ajuda de exame imunohistoquímico.
  • Carcinoma espinocelular acantolítico: É um subtipo raro, que ocorre com mais frequência na região de cabeça e pescoço, está associado a crescimento rápido e comportamento mais agressivo.
  • Carcinoma espinocelular Desmoplásico (ou esclerosante): É um subtipo raro que acontece em regiões expostas cronicamente ao sol de pessoas idosas, em especial nas orelhas. Tem um comportamento agressivo estando associado a maior risco de recidiva local e maior chance de metástases para linfonodos.
  • Carcinoma espinocelular adenoescamoso: É uma variante agressiva que acontece mais em região de cabeça e pescoço.
  • Carcinoma espinocelular associado a doença de Bowen: É o carcinoma espinocelular que acontece associado à doença de Bowen que é um tipo de carcinoma espinocelular in situ, restrito a epiderme. É mais comum em pessoas idosas, na região do rosto e nas pernas. A doença de Bowen é pouco agressiva e o carcinoma espinocelular associado a ela costuma ter bom prognóstico também.
  • Carcinoma espinocelular tipo queratoacantoma: Queratoacantoma em geral tem uma história de surgimento recente e crescimento rápido, clinicamente lembra o formato de um vulcão. Costuma ter bom prognóstico sendo pouco agressivo.

Grau histológico ou diferenciação histológica.

As células do carcinoma espinocelular são originárias das células espinhosas (ou escamosas) da epiderme. Quanto mais as células do tumor se pareçam com as células originais da pele, mais diferenciadas elas são. Quanto menos se parecem mais indiferenciadas. Uma célula tumoral que se parece pouco com sua célula de origem costuma ter um comportamento mais agressivo. O carcinoma espinocelular pode ser avaliado de 2 maneiras: grau histológico de Broders (divididos em 4 graus) ou uma classificação mais recentemente em 3 graus:

  • Carcinoma espinocelular bem diferenciado: A célula tumoral ainda se parece com a célula original da epiderme. É um tumor que costuma formar queratina, apresentando uma crosta ou casca branco amarelada dura de queratina. Costuma ser menos agressivo que as formas moderadamente diferenciada e pouco diferenciada.
  • Carcinoma espinocelular moderadamente diferenciado: É a forma intermediária entre o bem diferenciado e o pouco diferenciado.
  • Carcinoma espinocelular pouco diferenciado (também chamado de indiferenciado): A célula tumoral não se parece tanto com a célula original da pele, clinicamente costuma ser um nódulo avermelhado que pode sangrar. Costuma ser mais agressivo com maior risco de recidiva local e metástases linfonodais.

Grau histológico de Broders

  • Carcinoma espinocelular grau I: de 0 a 25% de células indiferenciadas
  • Carcinoma espinocelular grau II: de 25 a 50% de células indiferenciadas
  • Carcinoma espinocelular grau III: de 50 a 75% de células indiferenciadas
  • Carcinoma espinocelular grau IV: de 75 a 100% de células indiferenciadas
Carcinoma espinocelular pouco diferenciado, tumor mais vascularizado, avermelhado.

Nível de invasão ou espessura máxima do tumor

Quanto mais profundamente o carcinoma espinocelular invadir a pele, maior o risco de recidivas e metástases. Tumores menores que 2 milímetros de espessura tem comportamento menos agressivo. Tumores com mais de 6 mm de espessura tem maior risco de recidiva e metástases.

Invasão perineural e Invasão angiovascular

O  carcinoma espinocelular pode crescer invadindo nervos (invasão perineural) e invadindo vasos de sangue e vasos linfáticos (Invasão angiovascular). Quando existe invasão perineural ou angiovascular os tumores são mais difíceis de serem tratados, necessitando de cirurgia micrográfica de Mohs ou de radioterapia adjuvante. Tumores pouco diferenciados (grau de diferenciação) e de subtipo desmoplásico costumam apresentar maior chance de invasão perineural.

Margens cirúrgicas

Quando o carcinoma espinocelular é completamente removido temos margens cirúrgicas livres. Se alguma margem está comprometida, isso quer dizer que o tumor não foi completamente removido. Quando o tumor não é completamente removido existe um grande risco de recidiva local do carcinoma espinocelular.

Considerações finais

          O carcinoma espinocelular é um câncer de pele que pode ser curado quando tratado corretamente, a escolha do melhor tratamento depende da agressividade do tumor. Tumores mais agressivos devem ser tratados por especialistas. A cirurgia de Mohs é o método cirúrgico de escolha para os carcinomas espinocelulares pouco diferenciados, subtipos agressivos (desmoplásico, acantolítico, fusocelular e adenoescamoso) e tumores com infiltração perineural ou perivascular. A cirurgia micrográfica de Mohs tem as melhores taxas de cura nestes carcinomas espinocelulares agressivos.

Referências bibliográficas

  1. Bacchi CE, Melo CRA, Franco MF, Artigiani Neto R. Manual de padronização de laudos histopatológicos – Sociedade Brasileira de Patologia. 4. ed. — Barueri, SP : São Paulo, Manole 2014.
  2. Motaparthi K, Kapil JP, Velazquez EF. Cutaneous Squamous Cell Carcinoma: Review of the Eighth Edition of the American Joint Committee on Cancer Staging Guidelines, Prognostic Factors, and Histopathologic Variants. Adv Anat Pathol. 2017 Jul;24(4):171-194.
  3. Bander TS, Nehal KS, Lee EH. Cutaneous Squamous Cell Carcinoma: Updates in Staging and Management. Dermatol Clin. 2019 Jul;37(3):241-251.
  4. Slater S, Barrett P. Standards and datasets for reporting cancers. Dataset for histopathological reporting of primary invasive cutaneous squamous cell carcinoma and regional lymph nodes. February 2019. The Royal College Of Pathology.

Autor:

Dr. Gustavo Alonso

Dermatologista – CRM – SP: 97410 | RQE – 37815